sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Crenças sobre a tradução e o tradutor [Livro: “Traduzir com autonomia – estratégias para um tradutor em formação”, de Fábio Alves, Célia Magalhães e Adriana Pagano (Editora Contexto)]

Olá, pessoal!

Hoje falarei sobre o capítulo 1 de um dos livros mais completos para um aprendiz de tradutor que eu já conheci, o Traduzir com autonomia.

Escrito por professores do curso de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, é uma leitura essencial para os tradutores em formação: cada capítulo possui um tópico sobre um conceito específico da área, trazendo situações-problema que todo o profissional da área já se deparou ou que um dia vai ter que lidar, e alguns exercícios para colocar os conhecimentos em prática.
Os autores apresentam o livro como uma forma de mostrar novas visões sobre o ato tradutório, como o velho preceito de “Tradutor, traidor”. De forma didática, nos convida para refletir sobre o assunto e quais são os nossos conhecimentos prévios.

O primeiro capítulo chama-se “Crenças sobre a tradução e o tradutor”, e nele são feitas algumas perguntas para testar o que o aprendiz de tradução enxerga sobre o ato tradutório, abrindo espaço para uma reflexão sobre o assunto. Aprendemos que o conhecimento de uma língua estrangeira ou um dom especial não são o suficiente para um bom trabalho de tradução: tradutores altamente qualificados e sempre em busca da excelência são os profissionais mais bem sucedidos no mercado. Uma sensibilidade para enxergar os problemas também é imprescindível, mas não é a única coisa a ser levada em conta; estratégias adquiridas através da experiência ou aprendizado devem estar em constante aperfeiçoamento para que a “competência tradutória” chegue perto de seu ápice. De acordo com os autores, é possível fazer uma tradução da língua materna para a estrangeira, contanto que o tradutor tenha um conhecimento aprofundado da segunda língua, juntamente com o conhecimento cultural e técnico daquele país.

Em um esquema simples, podemos dizer que, para um bom trabalho tradutológico, é imprescindível (pág. 13):
·  Conhecimento do léxico, da morfologia e da sintaxe das línguas envolvidas (habilidades inferiores);
·  Conhecimento de aspectos textuais, de coesão e coerência, domínio de registros e gêneros discursivos e sua inserção no contexto incorporado (habilidades superiores);
·   Busca de subsídios externos (dicionários ou ferramentas de tradução, por exemplo);
·    Capacidade de dedução, indução e assimilação. 

Há ainda a desmistificação da crença de que o tradutor é um traidor, com comentários sobre o fato de que pode haver diferentes traduções de um mesmo texto, dependendo de vários aspectos como o público-alvo, a função do texto e fatores mercadológicos para a recriação desse texto. O importante para esse profissional é “uma formação especializada, o seu exercício consciente da profissão e sua contínua qualificação” (pág. 15).

Como um exercício de reflexão dessas crenças apresentadas, é dado um exemplo de tradução de uma certidão de casamento americana (realizado em Miami) para que o leitor a faça. O objetivo é questionar se o aprendiz está pronto para recriar esse tipo de texto para a cultura brasileira, já que existem jargões e uma linguagem própria para documentos tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. A identificação desse texto como um documento, aliás, já é um dos passos a ser dados pelo profissional e o uso das características textuais deste gênero devem ser aplicadas a partir do reconhecimento.


Concluindo, percebemos que o processo tradutológico nos trás muitos questionamentos e reflexões e, a partir deles, cada tradutor tende a criar as suas próprias estratégias de tradução, sendo elas criadas a partir de considerações sobre os aspectos textuais como o contexto daquele texto e do contexto que chegará às mãos do leitor, a análise linguística e qual é a melhor maneira de passar a mesma mensagem de forma adequada, respeitando o formato e a linguagem do texto fonte, usadas sempre ao lado da sensibilidade e percepção do tradutor.  



[Em breve, o segundo capítulo aqui no blog].

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