quarta-feira, 27 de agosto de 2014

"A quem interessa?" - Maria Lúcia Daflon (Senac-Rio)



Neste artigo retirado do livro "O trabalho da tradução" (Editora Contra Capa, Org. Mária Atália Pietroluongo), é tratado o tema do mercado da tradução e quais são as questões envolvidas na decisão sobre se um determinado texto seja traduzido ou não para uma segunda língua.
Uma das questões abordadas é a teoria lançada por Itamar Even-Zohar, conhecida como "Teoria dos Polissistemas Literários", que enxerga a literatura de um país como um grupo de diferentes literaturas, as canônicas e marginais (também conhecidas como "populares"). Nesse grupo, deve-se acrescentar também obras literárias estrangeiras traduzidas para aquela língua-alvo, levando em conta o quão importante e influente são para a literatura local. Com essas ideias, o teórico quis dar uma nova abordagem para a tradução literária, mostrando uma preocupação com o impacto que a tradução de uma obra tem em uma cultura.
Guideon Toury e André Lefevre aprofundaram essa teoria, levando em conta outros fatores determinantes no mercado de tradução literária, como os editores e os revisores, por exemplo, forças externas que Lefevre chamou de patronagem, apresentando uma visão em que o texto original não é mais visto como "imaculado", e sim sujeito à mudanças para que possa atender as demandas do mercado receptor.
No artigo também é apresentado um panorama da tradução de obras brasileiras para o exterior. A política de amizade entre o Brasil e os países aliados durante a Segunda Guerra Mundial influenciaram a criar um programa de aproximação cultural, o que fez com que textos brasileiros fossem encorajados a ser traduzidos para o inglês durante essa época, principalmente entre as décadas de 1940 e 1960. Os principais autores traduzidos foram Jorge Amado, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, entre outros.
Apesar desses esforços para divulgar a literatura brasileira em outras línguas e culturas, conclui-se que os leitores de nossa literatura são, em sua maioria, estudiosos e pessoas com algum vínculo com os nosso país. Um dos fatores que contribuem para esse resultado é que trata-se de uma literatura sobre "um país pariférico, com uma sensualidade à flor da pele, místico, cheio de problemas sociais e corrupção", de acordo com a autora. Outro fator apresentado é que as editoras estrangeiras estão sempre em busca dos livros mais vendidos, e os nossos são cheios de histórias com as temáticas mencionadas anteriormente.
Assim, o resultado é que o mercado brasileiro ainda importa mais do que exporta, "confirmando a tese de Even-Zohar, Tairy e Lefevre de que um sistema literário periférico tende a importar modelos e pouco influencia sistemas homogêneos, como o inglês."  
Ainda temos o problema da distribuição de livros, sendo que as tiragens de obras nacionais tendem a ser pequenas e mal distribuídas, onde o foco de vendas tende a ser nas grandes capitais. Alia-se a isso a "enorme carga  de impostos e falta de incentivo à leitura, sem contar a baixa renda da maioria dos cidadãos."
Como resultado, a cultura literária brasileira está sujeita a sofrer influência cada vez maior de traduções de obras estrangeiras. Medidas que visam melhorar a educação e incentivo à leitura são fundamentais para a criação de novos escritores e leitores no Brasil. Abrir espaço para editoras menores também ajudaria o nosso mercado a crescer e, assim, teríamos obras literárias muito mais diversificadas para traduzirmos e trazer aos nossos leitores tupiniquins. 

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