Hoje falarei sobre o capítulo 1 de um dos livros mais
completos para um aprendiz de tradutor que eu já conheci, o Traduzir com autonomia.
Escrito por professores do curso de Letras da Universidade
Federal de Minas Gerais, é uma leitura essencial para os tradutores em
formação: cada capítulo possui um tópico sobre um conceito específico da área,
trazendo situações-problema que todo o profissional da área já se deparou ou
que um dia vai ter que lidar, e alguns exercícios para colocar os conhecimentos
em prática.
Os autores apresentam o livro como uma forma de mostrar novas
visões sobre o ato tradutório, como o velho preceito de “Tradutor, traidor”. De
forma didática, nos convida para refletir sobre o assunto e quais são os nossos
conhecimentos prévios.
O primeiro capítulo chama-se “Crenças sobre a tradução e o
tradutor”, e nele são feitas algumas perguntas para testar o que o aprendiz de
tradução enxerga sobre o ato tradutório, abrindo espaço para uma reflexão sobre
o assunto. Aprendemos que o conhecimento de uma língua estrangeira ou um dom
especial não são o suficiente para um bom trabalho de tradução: tradutores
altamente qualificados e sempre em busca da excelência são os profissionais
mais bem sucedidos no mercado. Uma sensibilidade para enxergar os problemas
também é imprescindível, mas não é a única coisa a ser levada em conta;
estratégias adquiridas através da experiência ou aprendizado devem estar em
constante aperfeiçoamento para que a “competência tradutória” chegue perto de seu
ápice. De acordo com os autores, é possível fazer uma tradução da língua
materna para a estrangeira, contanto que o tradutor tenha um conhecimento
aprofundado da segunda língua, juntamente com o conhecimento cultural e técnico
daquele país.
Em um esquema simples, podemos dizer que, para um bom trabalho tradutológico, é
imprescindível (pág. 13):
· Conhecimento
do léxico, da morfologia e da sintaxe das línguas envolvidas (habilidades
inferiores);
· Conhecimento
de aspectos textuais, de coesão e coerência, domínio de registros e gêneros
discursivos e sua inserção no contexto incorporado (habilidades superiores);
· Busca
de subsídios externos (dicionários ou ferramentas de tradução, por exemplo);
· Capacidade
de dedução, indução e assimilação.
Há ainda a desmistificação da crença de que o tradutor é um
traidor, com comentários sobre o fato de que pode haver diferentes traduções de
um mesmo texto, dependendo de vários aspectos como o público-alvo, a função do
texto e fatores mercadológicos para a recriação desse texto. O importante para
esse profissional é “uma formação
especializada, o seu exercício consciente da profissão e sua contínua
qualificação” (pág. 15).
Como um exercício de reflexão dessas crenças apresentadas, é
dado um exemplo de tradução de uma certidão de casamento americana (realizado
em Miami) para que o leitor a faça. O objetivo é questionar se o aprendiz está
pronto para recriar esse tipo de texto para a cultura brasileira, já que
existem jargões e uma linguagem própria para documentos tanto nos Estados
Unidos quanto no Brasil. A identificação desse texto como um documento, aliás,
já é um dos passos a ser dados pelo profissional e o uso das características
textuais deste gênero devem ser aplicadas a partir do reconhecimento.
Concluindo, percebemos que o processo tradutológico nos trás muitos questionamentos e
reflexões e, a partir deles, cada tradutor tende a criar as suas próprias estratégias de tradução, sendo elas criadas a
partir de considerações sobre os aspectos textuais como o contexto daquele
texto e do contexto que chegará às mãos do leitor, a análise linguística e qual
é a melhor maneira de passar a mesma mensagem de forma adequada, respeitando o
formato e a linguagem do texto fonte, usadas sempre ao lado da sensibilidade e
percepção do tradutor.
[Em breve, o segundo capítulo aqui no blog].