terça-feira, 7 de janeiro de 2014

"Oficina de tradução", de Rosemary Arrojo (resenha)



[Resenha feita como tarefa para a disciplina "Introdução aos Estudos Tradutológicos", com a professora Adriana Zavaglia, em 2013]


O livro de Arrojo inicia-se explicando o que devemos entender sobre oficina de tradução e qual é a importância da abordagem de uma oficina para o campo da prática da tradução, mostrando que a teoria tem um lugar importante junto à prática e que a reflexão sobre alguns temas podem ser necessários no processo de traduzir. Ela confessa que o título surgiu de uma experiência própria da autora, a qual se reunia com estudiosos do assunto em sua passagem pela Universidade John Hopkins (Baltimore, EUA) e aproveita para questionar a relação de ideias e a fidelidade entre “oficina de tradução” e “translation workshop”.

No segundo capítulo, Arrojo aborda a questão do texto original, explicando que, na concepção dos estudiosos, o ponto principal do processo tradutológico é o de que o significado da língua original deve alcançar a língua-alvo, de uma forma compreensível e equivalente para os receptores do texto, mas isso ocorre dentro de uma visão tradicional desse campo, onde há três princípios básicos que definem uma boa tradução: deve reproduzir em sua totalidade a ideia do texto original, o estilo deve ser o mesmo e a tradução deve ter toda a influência e naturalidade do texto original (retirados, segundo a autora, do livro The Principles of Translation, de Susan Bassnett, 1791). A autora também a questão que Borges colocou quanto à tradução de seu personagem fictício Pierre Menard de Don Quixote para o francês: o tradutor concebe um projeto seguindo a visão tradicional, onde a obra de Cervantes pode ser traduzida em sua equivalência para a língua-alvo. Menard acreditava nos preceitos de Descartes de que poderíamos construir uma linguagem universal, uma verdade única e absoluta tornando sua tradução um trabalho invisível; a autora afirma que ele tenta recuperar o significado “original” de Cervantes, mas somente consegue reproduzir suas palavras, mostrando o quando é importante uma interpretação nesse processo.

Na questão do texto literário, temos por base alguns poemas originais e traduzidos para desmistificar o que os escritores e poetas criticam sobre “destruir e descaracterizar” um texto literário. Muitos poetas e escritores acreditam que a tradução é uma prática inferior, já que não consegue capturar o real sentido ou significado do texto literário, levando em conta a interação de forma e conteúdo dentro desse gênero. Em uma das abordagens de Menard, a literariedade de um texto seria perdida caso não houvesse qualquer alteração, perdendo seu caráter literário e tornando esse gênero “intraduzível”. Contudo, temos que tentar ver esse texto como uma convenção em que haja alguns significados poéticos que podemos interpretá-los e traduzi-los mantendo um sentido para eles na língua-alvo. Portanto, a tradução de um texto literário precisa ser antes de traduzida, lida e interpretada pelo profissional da tradução, para que o sentido literário seja o mais próximo possível do original, mesmo que este requeira modificações necessárias.

Quando vamos estudar o campo da fidelidade na tradução (já abordado quando se tratou de Menard), Arrojo nos dá um exemplo bastante didático: o de uma fantasia de Cleópatra em diferentes locais e tempos históricos, a qual a diferenciação entre elas parece gritante quando levamos em conta a sociedade e as opiniões da época, onde diferentes interpretações de uma mesma pessoa “original” se chocam em diversidade. Isso tudo para ilustrar como um mesmo texto original pode ser traduzido de diferentes maneiras se levarmos em conta que o contexto social e histórico do público-alvo e como o contexto em que ele foi escrito pode ser difícil de ser resgatado, já que podem ser universos e visões diferentes entre autor e tradutor. O autor, então, passa a ser um dos constituintes da interpretação daquele texto; contudo, cabe ao tradutor a tomar a decisão de como irá abordar o conceito a ser traduzido, já que ele tem o poder de interpretar da forma dele e propor um projeto próprio para o seu trabalho, onde o leitor também tem o seu papel interpretativo e o escritor acaba “perdendo” a soberania da autoria de seu texto. Com isso, podemos presumir que fidelidade nada mais é do que o projeto, visão e suposição, os quais o tradutor se diz fiel e que a comunidade interpretativa seja alcançada de forma que o texto seja claro para os falantes e ouvintes da língua-alvo. No caso da poesia, a tradução deve também ser fiel (o máximo possível) ao que o poema se propõe ao leitor, de qualquer língua.

No capítulo cinco, A teoria na prática, a autora nos propõe uma comparação entre o poema de Carlos Drummond de Andrade, Áporo, e a sua tradução para o inglês feita por John Nist, Insect. Partindo do pressuposto de que para traduzir um poema é necessário que o tradutor fique atento ao que ele próprio deverá enfatizar, criar e manter, a autora faz uma breve análise pessoal do poema, mostrando as diferenças e igualdades entre os dois textos. Arrojo foca em tópicos como repetições de sons (assonâncias, ecos de sílabas semelhantes), a escolha de palavras equivalentes e assim por diante. A autora afirma que “o jogo de leitura poética não deve descartar nenhum fragmento que possa ser empregado na construção de uma interpretação” (ARROJO, pág. 52), ou seja, quando lida com o gênero poético, tradutor deve ficar atento para não perder nenhum traço interpretativo desse texto; ainda que não consiga manter todos os pontos do texto original, a faculdade interpretativa deve ser priorizada para que o leitor da língua-alvo consiga capturar a totalidade que esse gênero proporciona. Finalmente, a autora propõe uma nova tradução, de sua autoria e estabelece os pontos que priorizou, que modificou e manteve do original e da tradução anterior.

Há ainda um capítulo destinado à exercícios de tradução, em que a autora mostra dois poemas diferentes, um original da língua portuguesa traduzido para o inglês (Poema de sete faces, de Drummond, com tradução de Elizabeth Bishop, Seven-sided poem) e um original da língua inglesa traduzido para o português (The Rival, de Sylvia Plath, com tradução de Luiz Carlos de Brito Rezende, Rival), apontando tópicos pertinentes para o aprendiz da tradução.


Após o vocabulário crítico dos tradutores, Arrojo dá ao leitor alguns recados que sumarizam o ponto principal da obra: além de traduzir, o tradutor precisa ler criticamente, estudar sobre o assunto do texto e fazer com que este seja aceitável e pertinente para o público-alvo; sempre com a curiosidade aguçada e interessado em captar exatamente o que aquele termo e/ou conceito problemático realmente significa, o tradutor tem que ter o mesmo cuidado que o próprio escritor teve ao traduzir um texto. Concluindo, traduzindo é uma atividade complexa e exige esforço, paixão e paciência do profissional para que seu trabalho seja de qualidade e reconhecido.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Helpers

Olá, visitante!

Dois links para o aprendiz de tradutor:


Esse site é interessante porque mostra quais foram os termos mais escolhidos para traduzir um outro determinado termo na língua que você buscou, mostrando-o  também na frase completa, o que nos ajuda a entender o contexto.

Google Translate: http://translate.google.com/

Ok, este site gera polêmica. Muitas traduções são consideradas literais demais e, por isso, não muito confiáveis. É muito fácil de se encontrar erros de preposições e coisas do tipo. Mas, feitas as devidas correções, é uma ferramenta que pode ser usada para o auxílio em uma tradução de uma frase inteira, por exemplo. O professor John Milton, em suas aulas de Introdução à Prática de Tradução do Inglês, defendeu o uso do tradutor automático em casos esporádicos, contanto que o usuário fizesse as devidas correções com bastante cautela.
Caso eu encontre algum texto sobre a polêmica do Google Transalte, eu posto aqui.


Explaining what I'm doing here.

Translation is not a matter of words only: it is a matter of making intelligible a whole culture.

 Anthony Burgess



Olá, visitante!

Sou estudante do curso de Letras da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e pretendo atuar na área de Tradução, nos idiomas português e inglês. Para isso, procuro fazer os cursos optativos da área oferecidos pelo Departamento de Letras Modernas (DLM) da faculdade.

Gostaria de apresentar este blog como uma singela tentativa de aprofundar os meus estudos no campo da tradução. Não tenho pretensão alguma de torná-lo algo além de uma ferramenta para eu expor os textos teóricos da área de tradução que tenho lido, tais quais como eu os compreendi, esperando (quem sabe...) algum feedback ou discussão por parte dos visitantes do site. Além dos textos teóricos, procurarei postar algumas atividades e trabalhos realizados sobre o tema durante o curso de Letras. Esse blog também servirá como um exercício de escrita, análise e crescimento crítico sobre temas diversos relacionados à Tradução.

Obrigada pela visita, "traidores" ;)